Comissão vai investigar morte em DP
Bastaram cinco horas para que a morte do cabo da Polícia Militar (PM) Raimundo Geraldo de Lima, 44 anos, assassinado na noite de segunda-feira ao investigar a ocorrência de um assalto com reféns no Inocoop do Alto de São Manoel, fosse vingada. Depois de ser preso e confessar a autoria do disparo que matou o policial militar, o flanelinha Ítalo Ramon Dieb Toscano, 20 anos, foi executado com um tiro na cabeça, dentro da cela da 1ª DP, onde estava preso com seu comparsa, Álvaro Santiago de Oliveira, 20 anos. O tiro foi disparado por um desconhecido que invadiu a delegacia (sem ser percebido) e se apresentou ao preso como um advogado de defesa.Uma comissão formada por três delegados de homicídios de Natal vai comandar o inquérito do caso e o envolvimento de policiais militares. Entre o horário da prisão do assaltante e sua execução passaram-se apenas cinco horas.O assaltante Álvaro Santiago, que estava na mesma cela que Ítalo Ramon, disse em depoimento à polícia que o suposto advogado chegou no corredor e pediu para olhar um hematoma na cabeça do preso, e ao se aproximar efetuou um tiro de revólver, a queima roupa, no lado direito da cabeça da vítima. Morte instantânea. Depois da execução o desconhecido fugiu pulando o muro da delegacia e não foi identificado pelos policiais da delegacia de plantão.O delegado de plantão, Edvan Queiroz - responsável pela custódia do preso assassinado, devido ao fato dele estar em uma cela da delegacia - disse que já havia mandado colocar Ítalo e Álvaro no solário da 1ª DP para evitar qualquer tipo de agressão contra os dois. "Tinha mais de 50 policiais militares aqui na frente da delegacia, e todos estão revoltados pela morte do colega. Mandei os agentes colocarem os assaltantes no solário por medida de segurança. Quando estava terminando de ouvir uma das vítimas do assalto, a gente escutou o barulho do tiro e corremos em direção onde estava o preso. Ele já estava morto e escutamos o barulho de uma pessoa pulando o muro, mas não conseguimos identificar quem era", comentou o delegado.O comandante do 2º BPM, Tenente Coronel Elias Cândido, disse que não vai atribuir a execução a nenhum policial militar, mas ressaltou: "Pode ter acontecido". Ele alegou que caso os policiais quisessem agir com a emoção do momento e eliminar o assassino do cabo Geraldo poderiam ter feito isso no meio do mato, onde Ítalo Ramon foi preso. "A PM fez seu papel que foi prender os acusados e entregá-los na delegacia de plantão. Não somos responsáveis pelo que acontece lá dentro. Se é pra chorar que chore família de bandido e não de policial", argumentou.O corpo do cabo Raimundo Geraldo de Lima foi sepultado na tarde de ontem, em Apodi. O velório teve direito a honras militares. O corpo do flanelinha Ítalo Ramon foi sepultado ontem, em Mossoró. O assaltante Álvaro Santiago foi transferido para a Cadeia Pública Manoel Onofre Lopes. Mal-estar na cúpula da segurançaA execução do preso Ítalo Ramon dentro de uma delegacia de polícia civil causou mal-estar na segurança pública do Rio Grande do Norte e gerou críticas por alguns setores da sociedade civil organizada. Na tarde de ontem a delegada-geral adjunta de Polícia Civil, Maria do Carmo Alves, e o chefe da Diretoria de Polícia do Interior (DPCIN), Albérico Norberto, vieram a Mossoró para buscar informações a respeito do caso, e disseram que a Secretaria de Segurança quer total transparência na investigação. "Se o preso está dentro de uma delegacia, a responsabilidade é do Estado, por isso estamos comprometidos em dar uma resposta a sociedade sobre esse caso", disse a delegada.Maria do Carmo reconheceu a deficiência na estrutura física da delegacia onde o preso estava, ressaltando que não haveria dificuldade em alguém pular o muro, como suspeita a polícia. "Constatamos que a porta que dá acesso ao corredor do solário fica aberta, facilitando a entrada de alguém", disse. Pai é contra justiça com as próprias mãosDesde que viu o filho metido em meio a más amizades, seu Tarcísio Toscano de Andrade sentiu uma ponta de decepção ao lembrar do futuro que sonhara para o filho. Ontem a decepção se transformou em lágrimas. A imagem do filho dentro do caixão era a única que ele não queria ver tão cedo em sua vida. "Mas é isso que dá se meter com más amizades", lamentava o pai do flanelinha Ítalo Ramon Dieb.Foi através de uma emissora de rádio que ele soube da execução do filho. "Na hora do conflito (assalto) um policial veio avisar que ele (Ítalo) tinha confessado a morte do policial e sido preso. Mas a gente ficou tranqüilo pensando que ele estava seguro na delegacia. Hoje (ontem) de manhã levei um choque quando escutei no rádio a notícia que tinham matado ele", desabafou.Para seu Tarcísio, o filho merecia pagar pelo crime, mas da maneira mais comum: "Se existe uma lei ela é pra ser cumprida. Ninguém tem o direito de fazer justiça com as próprias mãos", disse

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